O café faz parte da rotina do brasileiro há gerações, seja como um ritual de despertar ou como companhia para manter o foco ao longo do dia. Mas o impacto da cafeína no organismo vai muito além da sensação imediata de energia. Para o coração, essa relação é direta: dependendo da dose, ela pode ser uma aliada ou uma inimiga silenciosa.
A ciência mostra que a resposta à cafeína é individual, mas há parâmetros claros sobre benefícios, limites seguros e riscos envolvidos.
Quando a cafeína ajuda o corpo
Em doses moderadas, a cafeína estimula o sistema nervoso central e promove efeitos fisiológicos positivos. Entre os mais relevantes para a saúde cardiovascular estão o aumento do estado de alerta e a melhora transitória da circulação. Estudos recentes da Sociedade Europeia de Cardiologia mostram que o consumo moderado está associado a menor risco de mortalidade cardiovascular em adultos, especialmente quando limitado a duas ou três xícaras por dia.
A cafeína faz com que os vasos sanguíneos se dilatem levemente, melhora a microcirculação e reduz a percepção de fadiga. Em pessoas saudáveis, esse efeito pode até favorecer a prática de exercícios leves a moderados.
Quando a cafeína deixa de ser benéfica
O problema começa quando a ingestão ultrapassa a capacidade de metabolização individual. A literatura internacional indica que, acima de 400 mg de cafeína por dia em adultos saudáveis, aumenta o risco de sintomas como taquicardia, irritabilidade, ansiedade e elevação da pressão arterial. Para gestantes, o limite recomendado cai para 200 mg diários.
A taquicardia estimulada pela cafeína costuma ser passageira, mas em pessoas com arritmias prévias, hipertensão não controlada ou distúrbios de ansiedade, ela pode desencadear crises ou agravar sintomas. O exagero também interfere na qualidade do sono, o que afeta diretamente o sistema cardiovascular, já que noites insuficientes elevam a pressão arterial e aumentam o estresse oxidativo.
Café não é igual a energético
Outro ponto importante é diferenciar o café das bebidas energéticas. Enquanto uma xícara média de café tem cerca de 80 a 120 mg de cafeína, alguns energéticos ultrapassam 300 mg por lata e combinam a substância com estimulantes adicionais como taurina e glucuronolactona. Pesquisas recentes publicadas no Journal of the American Heart Association mostram que o consumo frequente desses produtos está associado a maior incidência de arritmias em adultos jovens, além de picos significativos de pressão arterial.
O risco aumenta quando energéticos são consumidos rapidamente, em jejum ou associados ao álcool.
Qual é o consumo ideal
Embora existam variações individuais, alguns parâmetros ajudam na tomada de decisão:
• Adultos saudáveis podem consumir até 400 mg de cafeína por dia, o equivalente a três ou quatro xícaras de café filtrado.
• Pessoas com histórico de arritmia, hipertensão ou ansiedade devem ajustar a dose com orientação médica.
• Energéticos devem ser consumidos com cautela, especialmente por adolescentes, grávidas ou pessoas com condições cardiovasculares.
• A sensação de palpitações após o café é um alerta para reduzir a dose ou espaçar o consumo ao longo do dia.
A chave está no autoconhecimento. A forma como cada organismo reage importa tanto quanto a quantidade ingerida.
Café, sim. Excesso, não.
A cafeína pode ser uma ferramenta valiosa para foco, bem-estar e desempenho cognitivo. Mas, como todo estimulante, exige responsabilidade. O coração responde rapidamente aos estímulos externos, e o equilíbrio entre energia e saúde cardiovascular depende do consumo consciente.
Equilíbrio é o segredo para manter o coração no ritmo certo.



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